segunda-feira, 17 de março de 2014

Mensagem da Promotora Legal Popular Magnólia Maria José Gomes, líder comunitária homenageada na formatura da 91ª turma da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília

 

Há uma profunda transgressão em descentralizar a Universidade de sua espacialidade concreta, movendo o foco para relações que não apenas a constituem, mas fazem dela parte integrante do tecido social que, ainda hoje, insistimos em chamar de contexto. Mas, na verdade, a distinção entre o interno e externo da Universidade é apenas mais uma forma de legitimar a apropriação do conhecimento pelo pensamento único. 

Invocar a extensão como centro desse movimento transgressor não é puro acaso: a extensão popular nasce como uma reivindicação pela descolonização do pensamento, por uma política onde os movimentos sociais tenham centralidade e por um conhecimento onde as identidades que habitam o sul global não sejam concessões de identidades forjadas para legitimar narrativas hegemônicas, por um conhecimento onde o horizonte intelectual que determina as perguntas que devem ser feitas a realidade não seja uma reprodução da maneira narcisista de pensar europeia; essa mesma maneira que faz com que o modelo de universidade a ser perseguido não seja uma instituição construída pela e por uma ideia radical de democracia, mas um modelo cujos principais indicadores de "excelência" são pautados pela produtividade e pela capacidade em se transformar em mercadoria.

Recentemente, as estudantes da 91ª turma da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília tomaram a decisão política de homenagear quem é constantemente apresentado e construído como externo à Universidade: a comunidade.

Para alguns, uma decisão singela, mas simbolicamente poderosa: dentro de um ritual que constantemente elege como homenageados homens brancos e engravatados que pouco contribuem para avançar um pensamento critico, escolheu-se uma mulher. Uma mulher que se diz simples, militante dos direitos das mulheres, moradora da Ceilândia. Para quem tem a oportunidade de aprender e construir com ela, uma líder comunitária, uma feminista que faz da sua voz a reverberação de tantas outras. Magnólia é uma Promotora Legal Popular, e desde 2005 tem atuado ativamente na luta pelos direitos das mulheres. Um reconhecimento devido e necessário para quem a quase dez anos contribui para uma educação popular e para construção de uma Universidade e sociedade feministas.

Acima, você pode conferir o vídeo com a mensagem da Magnólia às formandas e formandos.

Observação: a formatura da 91ª turma da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília ocorreu em setembro de 2013, e a mensagem foi gravada em outubro do mesmo ano.

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